"Quanto mais se fala, mais potencializa o assunto", diz goleiro Lúcio sobre racismo nos estádios
- Luiz Henrique Berger
- 14 de mar. de 2020
- 2 min de leitura

O goleiro Lúcio, do São Luiz, atravessou o campo aos 39 minutos do segundo tempo, quando o jogo com o Caxias foi interrompido, por conta de uma denúncia do atacante Tilica, que disse ter sido chamado de macaco por um torcedor. Lúcio se aproximou e disse ao colega para que "mostrasse superioridade".
Lúcio, que já ouviu pelo menos três vezes em campos do Rio Grande do Sul o mesmo xingamento, tem uma posição clara sobre o assunto.
"Isso vai ter sempre, mesmo que o mundo acabe", disse. Porém, observa que "não se trata de conformismo".
Para ele, "vai da criação de cada um. "Eu cresci escutando minha mãe dizendo que sempre que ouvisse xingamento, mostrasse superioridade". Foi o que ele disse ao atacante do Caxias, que estava muito irritado, mas ouviu de Tilica como resposta: "queria ver se fosse contigo".
Lúcio relembrou rapidamente, sem pensar muito - deixando a clara impressão do quanto sofre com isso, apesar de tentar não deixar transparecer - onde ouviu a expressão macaco dirigida a ele. "Uma vez em Vacaria, contra o Glória, outra contra o Avenida em Santa Cruz e na Boca do Lobo, enfrentando o Pelotas". Num desses jogos, contou Lúcio, o árbitro foi Márcio Chagas, que já sofreu e denunciou casos de injúria racial.

Questionado sobre como procedeu nas ocasiões em que passou pela situação, disse que "beira de campo é assim".
Para Lúcio, "quanto mais se fala, mais potencializa o assunto(racismo)".
Lúcio, no entanto, esclarece que não suporta todo o tipo de xingamento.
Para ele, faz diferença um grito isolado no meio da torcida daquele que vem de um grupo de torcedores. E mais, se ocorrer de ouvir fora de campo algo parecido, "é diferente", diz o goleiro do Rubro.
Em campo, explica Lúcio, "tem muita coisa para se preocupar, ficar atento ao jogo", ameniza o goleiro em relação a tudo que tem de ouvir a cada partida.
"Não é um BO (Boletim de Ocorrência) que vai acabar com o racismo", diz Lúcio, que se posiciona também sobre o risco que o São Luiz está correndo nesse momento. "Não acho justo o clube receber punição". Para ele, casos como o que envolve o São Luiz, principalmente, que não tem nem identificado quem teria ofendido o atacante do Caxias. "Pode ser alguém que foi uma vez no campo e acaba prejudicando o Clube", diz o jogador. "Se fosse um grupo ou uma torcida uniformizada, seria diferente", defende Lúcio, que neste domingo enfrenta o Grêmio na Arena. Deixou o treino no calor da manhã de sábado dizendo estar preparado para trabalhar um bocado a partir das 11 horas.
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