Copa Arizona 1975: O dia em que o Rio Grande do Sul aplaudiu o Ouro Verde
- Luiz Henrique Berger
- 28 de jun. de 2024
- 3 min de leitura
Luiz Henrique Berger
1975 foi um ano mágico na história do multi-campeão Ouro Verde. Com 11 anos de fundação, a equipe do Bairro Assis Brasil foi para o enfrentamento regional, depois de mostrar a que veio no município, conquistando um título atrás do outro. Mas a projeção estadual era a meta. Ou pelo menos, regional.

Depois de eliminar um a um os adversários regionais, a disputa seguiu, em jogos eletrizantes no sistema mata-mata, eliminando dois adversários nos pênaltis, casos de Afucotri (terceiro jogo) e Juvenil de Passo Fundo (sétimo jogo).

Ainda antes de enfrentar o Murialdo, de Porto Alegre, o Ouro Verde teve que superar adversários como o Olvebra, de Lajeado. Nos jornais, a manchete era: "Ouro Verde vai conhecer o Olvebra, o time que já fez 25 gols".

Era a disputa da vaga para chegar à final do Interior. O outro finalista já era conhecido; o Internacional de Rio Grande.
O mesmo jornal, no dia seguinte à vitória de 2x1 do Ouro Verde, no Estádio 19 de Outubro sobre o Olvebra mancheteou: "A melhor defesa levou dois. O melhor ataque não marcou. Deu Ouro Verde".

O gol da vitória é lembrado com um dos mais emocionantes da história de 60 anos do Verdão. Eram 39 minutos do segundo tempo, quando Renatinho e Capucho, conforme escreveu o Jornal Folha da Manhã, de Porto Alegre, "deram um show da meia cancha até a entrada da grande área".
Os dois tabelaram três vezes até que Renatinho chutou, batendo na defesa. A bola sobrou para Capucho que, na entrada da área, chutou com o pé esquerdo no canto direito de Henz". Capucho fez os dois gols naquela tarde de 18 de maio de 1975.
O jogo de número 9, a decisão do interior, foi em campo neutro, o Passo D'Areia, em Porto Alegre. O time do técnico Hélio Teixeira tinha média de idade baixa, de 22 anos. O mais experiente era Piranha, o maior goleiro da história do clube, com 30.

Piranha que, no jogo em Porto Alegre, bateu o pênalti que abriu o placar em cima do time riograndino, aos 39 minutos. Ainda no primeiro tempo, aos 43, Capucho recebeu cruzamento de Lorecindo, batendo de primeira, sem que a bola tocasse no solo, 2x0.
O segundo tempo reservava ainda mais alegria e a confirmação da superioridade do time de Ijuí. Bertil, que substituiu Capucho, marcou o terceiro ao arrancar em direção ao gol e, vendo o goleiro adiantado, tocou por cima de Luis Fernando, fechando a goleada e carimbando a presença na grande final do Estado.
Estrela, do Bairro Sarandi e Murialdo do Partenon, decidiram a vaga para pegar o Ouro Verde. Deu Murialdo, 3x1.
O campeão da grande Porto Alegre tinha elevada média de gols marcados na Copa Arizona - 2,8, bem acima dos 1,3 do Ouro Verde, que marcou 15 gols em 8 jogos. Mas não havia preocupação com os números o adversário. As atuações convincentes diante de adversários fortíssimos fazia direção, atletas e torcida acreditarem na conquista do título estadual.
O time que enfrentou o Murialdo foi a base de toda a competição: Piranha, Jair, Renato Morais, Paulo Perim e Marino; Alemão (Sadi), Rony e Paulo Juswiack; Lorecindo (Bertil), Capucho e Renatinho.
Era 8 de junho de 75. Estádio dos Eucaliptos. 10 mil presentes se acotovelaram para ver o Ouro Verde bater o Murialdo por 3 a 2. Campeão estadual da Copa Arizona, competição com mais de 400 times participantes.
Capucho abriu o placar aos 15, com o empate aos 44. No segundo tempo, o time de Porto Alegre virou para 2x1, mas na saída de bola, Capucho fez 2x2. Aos 37 do tempo final, Paulo Juswiack chutou forte, o goleiro soltou e Rony marcou o gol do título.
O centroavante Capucho, após o jogo disse: "acharam que era moleza, essa é a raça do futebol de Ijuí", afirmou o saudoso camisa 9.
Alemão, o capitão, recebeu a Taça do gerente da Companhia Souza Cruz, do Rio Grande do Sul, Keneth Jones.

O campeão gaúcho, após o título estadual, se credenciou para a disputa nacional, em São Paulo, assunto para a próxima reportagem.
Os detalhes obtidos para esta reportagem são resultado do trabalho da saudosa Marli Lopes Hammastron, a esposa de Bertil, que cuidadosamente, guardou naquele ano de 75 as reportagens, jogo a jogo, produzindo depois um material que hoje é um documento histórico.

Uma presença ilustre entre os 10 mil torcedores daquele domingo no Estádio dos Eucaliptos: Tesourinha, o craque do Internacional de 1939 a 1957. O Estádio não era mais o campo de jogo do Internacional, que havia inaugurado seis anos antes o Beira Rio.
Tesourinha estava feliz por ver o Eucaliptos novamente lotado. Disse na reportagem à Folha da Tarde, outro jornal de Porto Alegre, da Companhia Jornalística Caldas Júnior, que dava espaço à Copa Arizona, que havia reservado o domingo para matar a saudade e torcer pelo futebol amador, tão esquecido.
Comments