TRÊS perguntas para Daniel Franco
- Luiz Henrique Berger
- 17 de mar. de 2022
- 4 min de leitura

O técnico do São Luiz para a sequência do ano, pós frustração com o resultado final do Gauchão, foi apresentado nesta quinta-feira. Daniel Franco, 50 anos, se disse surpreso ao visualizar na terça-feira a ligação telefônica vinda do gerente de futebol Delmar Blatt, o convidando oficialmente para treinar o Rubro.
TempoTodo - Desejando que a vinda para Ijuí seja um acréscimo na tua carreira, pergunto qual o significado pra ti vir trabalhar no São Luiz e como foi se moldando até chegar a ser esse profissional que é hoje ?
Daniel Franco - Vir para o São Luiz é um desafio bom e importante, esperando com o apoio de todos, desenvolver um bom trabalho. O que me moldou na minha trajetória como treinador, principalmente, foram todas as fases que passei pra chegar até aqui. Quando parei de jogar futebol, aos 33 anos, fiquei num primeiro momento, 2 anos sem mexer com bola, sem bater um futebol, sem fazer nada. Isso porque acabei naquele momento, realmente saturado de tudo que acontece no meio do futebol e não são poucas coisas. Vocês sabem disso. Mas logo após eu resolvi voltar para o meio, procurei o Internacional, que abriu as portas para que eu pudesse começar minha formação como treinador. E acho importante o treinador ter uma passagem por categoria de base, pra ter o entendimento de como surge o atleta na sua essência. Para conhecer perfil de atleta, porque, às vezes, não é somente o perfil técnico, tem o o entendimento, a parte cognitiva, que é muito importante, e além de tudo isso, eu ainda sempre tive em mente que um ex atleta, não somente por se ex atleta, ele será um bom treinador. Ele precisa de qualificação, precisa buscar entendimento e conhecimento. Então, pensando nisso, fui estudar, sou formado em Educação Física, posteriormente, fiz outros vários cursos, inclusive o da Licença A da CBF. Eu tenho a qualificação para treinar tanto no país quanto fora, e continuo fazendo. Tenho também um curso na área de vocês, da ACEG (Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos), e só fiz esse para poder entender o lado da imprensa. A gente precisa respeitar muito os profissionais , entender que todos nós estamos trabalhando, com respeito mútuo. E assim fui me moldando. Em relação ao meu trabalho, eu gosto muito da disciplina, de cumprimento de horários, cronograma, aquilo que está determinado. Treino bastante, pois é preciso treinar e preparar o grupo da melhor maneira, para que ele possa suportar e comportar os 90 minutos de uma maneira consistente, que não caia tanto o rendimento. Para isso é o dia a dia da Comissão. E a do São Luiz é extremamente competente. Tenho certeza quer vamos nos dar muito bem.
TempoTodo - Você trouxe uma relação de atletas, tem uma lista; tem uma base do que vai poder contar do grupo do Gauchão? E uma segunda: um técnico que seja referência pra você ?
Daniel Franco - Na minha formação como treinador eu trago algumas referências. Nem tão atuais assim, mas uma é o Abel Braga, que foi meu treinador. Trago muitas referência do Antônio Lopes, do Ênio Andrade, todos profissionais com quem trabalhei, e hoje, falando em perfil de treinador que me agrada muito é o Klopp (Jurgen Klopp, técnico do Liverpool). São profissionais que me agradam pela energia, pela postura deles, cada um dentro de suas características, Ênio Andrade, por exemplo, era aquele profissional que no passado se falava muito: mudou o jogo no vestiário. Trago essa referência. O Abel, é o paizão. O cara que tem um domínio de grupo excepcional, e a gente vê isso na tragédia com o filho dele no Rio , como ele foi abraçado pelo grupo e pelos torcedores. O Antônio Lopes pela parte tática. Foi com ele que passei a ter o entendimento do que era a parte tática, o entendimento do jogo. Naquela época entra também o Mário Sérgio, na parte tática, que foi meu treinador no Corinthians. Pelas ideias dele, o Klopp. Li livro dele e por tudo que ele representa hoje para o futebol mundial as conquistas e a maneira com que a equipe joga, com transições, com agressividade, marcação forte. Isso me agrada bastante.
Quanto à relação de nomes, estamos conversando com Delmar, a gente sempre tem alguns nomes, mas primeiro vamos ver aqueles que realmente vão ficar para depois buscar as posições que faltam.
TempoTodo- Sobre a parada pós carreira e a decepção com o futebol, a sequência como treinador. A necessidade de pivotar e de ter resiliência para sair, crescer e suportar essas pressões no dia a dia de decepções?
Daniel Franco - Eu estava fazendo as contas. Eu estou com 50 anos. Comecei com 11, quando eu ia lá de Minas do Leão.
"São 38 anos no meio do futebol e eu não estou acostumado com algumas coisas ainda".
Porque o futebol te trás surpresas, e muitas delas desagradáveis, no dia a dia. Eu acabei de ver muitas situações desagradáveis no Campeonato Gaúcho, que fazem a gente repensar muito o futebol. Mas quando corre na tua veia a essência do futebol, o desejo, o carinho, o amor pela profissão, aí a resiliência se torna mais agradável ainda.
E agora, quando eu retornava de Frederico Westphalen para Porto Alegre, recebia o contato do Delmar, nem me passou pela ideia (de que pudesse ser um convite) porque eu estava com a cabeça tão atormentada ainda do que aconteceu, que a partir do momento que ele falou da possibilidade e do interesse, a chave mudou rapidamente. E quem vive do futebol é assim mesmo. A gente tem, eu não digo se acostumar com essas coisas que acontecem no futebol, mas tu tem que ter muita perseverança e fé para suportar todas essas situações. Eu prezo muito pelo papo reto, a coisa digna, séria e honesta. E nessa hora a gente dá uma balançada porque realmente frustra o que a gente pensa, frustra um trabalho, uma sequência profissional, mas tenho fé e confio muito . Eu entrei no futebol e dou sequência hoje porque eu acredito que pode ser mais demorado, mais difícil, mas fazer o certo ainda é o correto.
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