Relatos de solidariedade comovem e mostram a generosidade dos ijuienses; CTG Farroupilha mantém Centro de Coleta e mobilização é crescente
- Luiz Henrique Berger
- 14 de mai. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 7 de jun. de 2024

O drama vivido por gaúchos de várias regiões é acompanhado diariamente por meio das coberturas em rádio, tv, jornal e internet, desde quando tudo começou.
Para além de informar-se sobre o drama apresentado por reportagens, moradores de Ijuí fazem a sua parte, contribuindo de várias formas para amenizar o sofrimento de moradores de cidades distantes 200 a 500 quilômetros de distância.
A possibilidade de um depósito via pix tem sido utilizada, assim como o auxílio com doações de roupas, alimentos, água e materiais de limpeza. Tudo soma, e no conjunto grande de distribuição, o resultado acaba sendo surpreendente pelo volume arrecadado. E que precisa seguir.
Dias frios, umidade, possível volta da chuva, notícias pouco animadoras diante de números inacreditáveis: 149 mortos, 450 cidades atingidas, 806 feridos. O total de pessoas que tiveram de deixar suas residências ultrapassa 615 mil, das quais 76,8 mil estão em abrigos e 538,5 mil, em casas de amigos ou parentes.
Essa reportagem está longe, muito longe de mostrar todo o conjunto de solidariedade brotada em Ijuí, a cidade de pelo menos 13 etnias, mas os relatos obtidos servem para mostrar parte do que tem sido gerado aqui, transmitindo exemplos de generosidade e compaixão para os que perderam muito ou tudo.
A imagem de jovens e ótimos repórteres andando pelas ruas alagadas das cidades atingidas faz lembrar de Pegadas, canção de Bebeto Alves, com o refrão: "Nas pegadas das minhas botas, Trago as ruas de Porto Alegre, E na cidade dos meus versos, O sonho dos meus amigos".
É também de Bebeto Alves, o que poderia ser a trilha sonora triste para os tempos atuais. Em Depois da Chuva, o compositor escreveu e cantou já no primeiro disco, de 1987:
"Não vou morrer; Isso é um insulto; Sob esse viaduto; Não vou morrer; A cidade escura e imunda é que está a apodrecer; Mas vem a chuva, vem; As pedras rolar; Rolam pedras, sim; Rolam em mim".
Por falar em música, é em um local onde em noites festivas o som de violões e gaitas é ouvido, mas que nas últimas semanas tem funcionado como Centro de Coleta de donativos para os flagelados das enchentes.
"Vamos abrir o CTG", foi a decisão rápida tomada pela patronagem do CTG Clube Farroupilha. A ideia lançada pelo patrão Altemir Thomé e pelo vice Chico Noll encontrou apoio imediato de todos. A ATQG (Associação Tradicionalista Querência Gaúcha), convocada, deu resposta positiva e a mobilização só cresceu.

Da Vila Mauá, por exemplo, o Piquete Pousada dos Tropeiros marcou presença. A esposa do morador da localidade, Mauri Brudna, Elaine, entende que é momento de "dar graças que não estamos precisando de ajuda", ao mesmo tempo que reconhecia que não havia motivo para elogios, pois "é tão pequeno o que estamos fazendo", comparado com o drama vivido por milhares de gaúchos. Elaine é Coordenadora Cultural do CTG que tem como patrão, Alceu de Souza.
A mobilização no CTG cresceu de tal forma que houve a necessidade de organizar escalas. Cerca de 100 pessoas se revezam por dia nas atividades de separação, recebimento, embalagem e carregamento de kits.

Secretária do CTG, a assistente social Sissa de Aguiar não esconde a surpresa com a mobilização. "A comunidade abraçou tanto que tomou conta", exagerou ela, enquanto se dividia entre atender o tempotodo.com e os voluntários com dúvidas ou pedidos de orientação. Para o patrão Thomé, há duas situações nesses casos de mobilização; por algum motivo você não pode ajudar, ou você não quer. "A realidade, no entanto, é que temos um povo amado junto", se emociona ao constatar.

Num dos casos acompanhados, Sissa organizava a ida de Leandro Foletto para a região de Roca Sales. De caminhonete, ele estava no CTG para carregar mantimentos e tentar chegar a uma das regiões onde havia estado há poucos dias. "Não há certeza de trânsito livre, mas vou de novo", disse, convicto. Apenas pedia para que pudesse fazer a entrega nas casas, diretamente para as pessoas necessitadas.
Carretas, caminhões, caminhonetes e aviões particulares tem saído diariamente de Ijuí em direção às regiões afetadas. O controle é com Sissa, que registra o veículo na saída, a chegada ao destino e a entrega da carga.
Quando citamos a cidade das 13 etnias, é certo que a União das Etnias teve já na origem da mobilização papel de protagonista. O Diretor Cultural Francisco Rollof disse que a UETI está em campanha desde o início das enchentes. "Muitas toneladas foram arrecadadas e todo o material está sendo distribuído em parceria com a Polícia Civil e levado ao Farroupilha para a triagem".

O jornalista Vilson Wagner, assessor de comunicação da Ceriluz, contou que uma equipe se deslocou à região da Certel, onde em Boqueirão do Leão e Progresso, mais de 40 mil Unidades Consumidoras estavam sem energia. A equipe da Ceriluz foi composta pelos eletricistas: Milton José Kieling, Leandro Carlini, Luciano Von Tryller, André Leonardo Veit, Gabriel Andrade, Maicon Emanuel Datsch e Jacson dos Santos Pereira.
“Temos a certeza de que muitos outros colaboradores gostariam de estar lá também, mas por ora, essa equipe nos representa e nos enche de orgulho, superando entulhos e a lama para por a infraestrutura de distribuição de energia em pé novamente”, afirma o presidente da Ceriluz Distribuição, Guilherme Schmidt de Pauli.

O grupo - que retornou a Ijuí no sábado à tarde - integrou uma frente de trabalho, ao lado de outros profissionais das Cooperativas que compõe a Federação das Cooperativas de Infraestrutura do RS – Fecoergs, a partir do Plano de Contingenciamento de Redes do Sistema Fecoergs, onde as cooperativas se ajudam umas às outras quando atingidas por eventos climáticos extremos.
O Hospital de Clínicas de Ijuí está servindo de retaguarda para o Estado, definiu o Coordenador de Relações Institucionais, Alan Denis. "Três bebês nasceram aqui vindos da região central, além de cirurgias vasculares e hemodiálise são demandadas. A referência é Santa Maria, mas devido às enchentes, os pacientes foram trazidos para cá". O pedido mais recente, contou Alan, vindo do Estado, é para o HCI receber pacientes oncológicos para os tratamentos com quimioterapia. A vinda desses pacientes também depende da logística de Santa Mari, devido às condições das estradas.
O HCI também participa desde o princípio na campanha local com donativos.
A Emater também tem relatos comoventes a fazer. A jornalista Cleusa Bianchi colocou o tempotodo.com em contato com a extensionista Daniela Klos Zdanski, da equipe da Emater Ibirubá. Lá, o município tem como programação a Semana da Solidariedade. "Nossa ação vai ser coletar frutas para distribuição e levar para consumo imediato para os atingidos da enchente em Muçum", contou Daniela.

O que surpreendeu e foi contado pela extensionista envolveu uma moradora do interior de Ibirubá. Ela estava ilhada, já que a ponte de acesso à moradia havia caído, mas a partir do improviso com postes, a moradora de Linha Pulador Norte, encontrou uma forma de colaborar.
"A dona Noélia Sand nos chamou, dizendo que a situação dela "é pequena diante dos outros e ofereceu frutas. Veio da casa com um carrinho de mão, com tudo embaladinho, abacates, laranjas, bergamotas e lotou o porta malas do carro da Emater. Encheu o coração da gente de energia para seguir.
Na Igreja Adventista, o trabalho voluntário já resultou em 3 toneladas arrecadadas, com 300 cestas entre alimentos e produtos de limpeza levados para uma das regiões atingidas.
Pastor Vanderson de Jesus Rodrigues ressaltou que um grupo de 60 voluntários está programado para sábado levar mais doações e ir com o objetivo de limpar casas.

" Nossa base será Garibaldi, com pernoite e refeições, e de lá, atender Roca Sales, Muçum e Santa Tereza, focando nestas três cidades". A mobilização envolve a Escola Adventista, mas é abrangente com membros de vários outros grupos que souberam da iniciativa.

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